Vivemos em uma sociedade conectada e que busca pensar em tudo, mas será que conseguimos pensar sobre o nascer? O universo do parir é enorme, vivemos em um país em que 80% das gestantes optam por partos cesarianos, contudo o que as leva a decidir assim? O que nos leva a pensar no parto como um momento catalogado? Será que o parto é um momento assustador?
Na nossa sociedade pensamos em tudo como parte de um pacote planejado e com o parto não é diferente, assim existe uma banalização relacionada ao nascimento, idéias para que seja um evento incrível, todavia é necessário elucidar porque o parto não “cabe” nessa caixa quadrada que a sociedade desenhou.
Existe uma enorme cobrança para que a mulher siga protocolos, para que ocupe um lugar de submissão em um momento que é dela, novos procedimentos e métodos vão surgindo e o parto se torna um grande comércio deste “catálogo”, esse modelo de parto associado a todas as violências obstétricas fizeram com que o parto normal fosse visto de forma monstruosa e assustadora.
Por anos mulheres contaram histórias assustadoras sobre seus partos e assim o parto humanizado se deu com o intuito de mudar esse cenário obstétrico no Brasil demonstrando que parir pode ser lindo, incrível e fisiológico, que mesmo em um momento onde há uma definição de fragilidade as mulheres podem decidir, podem ser donas de si e viverem esse momento onde elas são as protagonistas.
A mulher no momento do parto deve estar em um ambiente seguro e confortável, com as pessoas que ama por perto e assim ter também liberdade, isso é um parto humanizado. A mulher precisa poder recusar uma episiotomia (episiotomia é o corte na vagina para “auxiliar a saída do bebê”)caso não queira, ter nas suas mãos a liberdade para ser a primeira a pegar o seu bebê quando nascer e não o pediatra como é feito dentro das instituições (ressaltando que isso é em caso de não emergências), ela deve ter acesso a alimentação, a métodos não farmacológicos para alívio da dor como o uso do banho terapêutico, da bola, massagem, óleos essenciais e manejo corporal, bem como ter um ambiente acolhedor com menos barulho, e com direito a também ter uma doula como acompanhante deste processo.
Isso tudo nos leva a ideia de que parto humanizado não é sobre obrigar a mulher não se planejar ou não fazer cesárea, é justamente por permitir que ela decida, que ela seja a parte protagonista desse momento perante. Assim podemos afirmar que processo da humanização dentro das instituições é um bebê que mal começou a engatinhar, levando em consideração que a assistência obstétrica se baseia em técnicas ensinadas de profissional para profissional, onde são passados procedimentos arcaicos, temos uma assistência desatualizada e assim desumana, as instituições são estruturadas por protocolos que precisam ser revistos, muitos deles já foram derrubados por evidências científicas que demonstram a não eficácia dos mesmos, todavia é perceptível algumas movimentos do Ministério da Saúde iniciando uma visão respeitosa ao parto e a mulher, como a cartilha da gestante que foi atualizada (salientando que no governo Bolsonaro tivemos uma construção de cartilha extremamente desumanizada o que mostra que o debate ainda é muito novo).
Estes processo estão ligados a construção social patriarcal que coloca a mulher em papel de submissão e assim também de violências, ainda existem inúmeros casos de mulheres mutiladas e o processo de debate incomoda, contudo necessita ser feito para que as mulheres tenham acesso às informações de todos seus direitos durante a gestação e parto e que assim tenhamos partos verdadeiramente especiais, esse é o universo do parir, não é perfeito, mas também não precisa ser violento.
O universo do parir, é o universo do processo natural da vida que brota, que nasce, que irá crescer, é o universo do planejado e do bagunçado, é o universo das correrias e da paz, que a liberdade dele seja maior do que nossa intenção social de controlar este milenar universo.